Pode tomar adoçante todo dia? Quem não tem diabetes pode usar adoçante? O que é mais saudável açúcar ou adoçante? Afinal, quantas gotas de adoçante no café?
Organização Mundial da Saúde desaconselha o uso de adoçantes-sem-açúcar pela população em geral
A dúvida sobre o que é mais saudável – se açúcar ou adoçante – é antiga e vem dividindo opiniões. Um relatório recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, renova o alerta de que o consumo de adoçante pela população geral é mais danosa à saúde do que se admitia até então.
Por trás da polêmica sobre os adoçantes há uma intensa queda de braço entre ciência, sociedade e indústria. E é essa briga que as novas diretrizes da OMS prometem chacoalhar.
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A polêmica, que surgiu há mais de 100 anos, ganhou um novo capítulo em 2023, com a publicação de uma nova diretriz da OMS sobre adoçantes sem açúcar.
Ao contrário do que diziam os defensores da substância, a diretriz da OMS apontou que não há nenhuma evidência de que o uso de adoçantes traga benefícios a longo prazo na redução da gordura corporal em adultos ou crianças. Pior ainda: o uso contínuo pode ser prejudicial à saúde.
A história dos adoçantes, de heróis a vilões
O mercado dos adoçantes sem açúcar começou no século XIX, com a busca por uma alternativa comercialmente viável ao açúcar natural produzido nos países tropicais.
Foi assim, de pesquisa em pesquisa e muitas vezes por acaso, que vários adoçantes começaram a surgir. Muitos, curiosamente, derivados do petróleo: como a sacarina, em 1897, e o ciclamato, em 1937.
Poucos anos depois de descoberta ao acaso por um químico que tentava derivar o alcatrão de hulha em novos compostos, a sacarina já era largamente utilizada na indústria alimentícia. Tudo isso, claro, sem o conhecimento ou consentimento da maioria da população.
Foi o químico Harvey Washington Wiley, em 1906, quem primeiro apontou que o uso indiscriminado de sacarina talvez não fosse boa ideia. A sacarina chegou a ser banida em 1912, mas voltou a ser utilizada nos produtos alimentícios a partir da primeira guerra.
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“Adoçante é bom” x “Adoçante é mau”
Todavia, conforme abriam novos mercados, os adoçantes passaram a ser acompanhados por um batalhão de argumentos a favor do seu consumo. Produtores, comerciantes e adeptos logo se apressaram a louvar os adoçantes como aliados poderosos no emagrecimento e combate ao consumo excessivo de açúcar.
Do outro lado, a sociedade covil lutou repetidas vezes por transparência em relação aos alimentos, colocando tais argumentos à prova.
No final do século XX, uma controvérsia apontou o aspartame como causador de câncer no cérebro, aterrorizando os cafezinhos e mobilizando tanto opinião pública quanto órgãos reguladores.
Já a sacarina voltou a ser proibida nos EUA e Canadá durante a década de 1990, depois que estudos apontaram potenciais efeitos carcinogênicos, hepatotoxicidade e danos no estômago e DNA provocados pelo consumo do adoçante.
Desde então, o mercado global de adoçantes cresce a cada ano: 94,48 bilhões de dólares segundo avaliações de 2021.
Novas pesquisas sobre os adoçantes
Em 2022, porém, a revista científica PLOS (Public Library of Science) publicou um estudo feito por 18 especialistas em saúde sobre a relação entre desenvolvimento de câncer e o uso de adoçantes artificiais, acendendo novamente o alerta: a relação está lá.
Ainda em 2022, dessa vez na Revista Cell, outro artigo mostrou que adultos saudáveis que usam sacarina apresentam pioras nos níveis de resposta glicêmica.
E finalmente chegamos a Maio de 2023, com a diretriz da OMS se posicionando contra o uso do adoçante pela população em geral.
A recomendação da OMS sobre consumo de adoçantes
A recomendação – baseada em uma revisão sistemática das evidências científicas disponíveis – indica que o consumo a longo prazo de adoçantes sem açúcar não proporciona benefícios substanciais em termos de redução de gordura corporal.
Além disso, há maior suscetibilidade ao diabetes tipo 2, crescimento de doenças cardiovasculares e até mesmo de mortalidade em populações adultas.
A diretriz da OMS sobre adoçantes sem açúcar faz parte de um conjunto abrangente de diretrizes existentes e futuras sobre práticas alimentares saudáveis. Seu objetivo é promover hábitos alimentares saudáveis ao longo da vida, melhorar a qualidade da dieta e diminuir a carga global de doenças não transmissíveis.
Em comunicado, a Anvisa destacou que o estudo da OMS não tem como objetivo rever o perfil de segurança dos adoçantes sem açúcar. “A recomendação é condicional, já que há necessidade de reunir mais informações sobre as consequências versus os benefícios da sua adoção, sugerindo aos países que ampliem a discussão em seus territórios, incluindo dados sobre a extensão de consumo dessas substâncias pela população nacional” (fonte: Agência Brasil – Brasília).