AUTORES:
Marcos Olender – Universidade Federal de Juiz de Fora
Karla Cavalari Rodrigues – Universidade Federal de Juiz de Fora
Daniele Ferreira – Universidade Federal de Juiz de Fora
Jessica Mazzini Mendes – Universidade de São Paulo
Pedro Gomes Barbosa – Universidade Federal de Juiz de Fora
Mônica Olender – Universidade Federal de Juiz de Fora
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a preservação e valorização da memória ferroviária nas regiões da Zona da Mata e do Campo das Vertentes, em Minas Gerais.
Parte-se da noção de que a paisagem é forma e sentimento no intento de compreender a importância que o trem desempenhou na conformação das paisagens mineiras, conferindo-lhe unicidade.
Ressalta-se a sua marcante presença, ainda hoje, no cotidiano de seus habitantes e em seu imaginário, contribuindo para a conformação de identidades locais.
Destarte, este artigo visa expor o vínculo existente entre o patrimônio ferroviário e as paisagens culturais, bem como os laços desenvolvidos pelos moradores com a ferrovia ao longo do tempo, destacando o remanescente desse patrimônio nos municípios, o que nos conduz à reflexão sobre a preservação do patrimônio ferroviário face às gerações futuras.
Este artigo baseia-se em documentações e depoimentos coletados pelo programa de extensão Memória Trilho.
Este programa, promovido pelo grupo de pesquisa e extensão Laboratório de Patrimônios Culturais (LAPA), vinculado à Universidade Federal de Juiz de Fora, tem como objetivo valorizar o patrimônio e a memória ferroviários, procurando identificar, registrar e divulgar o patrimônio material e imaterial dos caminhos mineiros da antiga SR-3 da R.F.F.S.A. de seis municípios das regiões ora mencionadas
Resultado da Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no século XIX, a ferrovia foi o maior e mais importante invento no que diz respeito aos meios de transporte de mercadorias da época.
Toda Europa foi cortada por linhas férreas que transportavam ferro, minério e carvão para sustentar as grandes indústrias que estavam crescendo a números exponenciais.
Logo depois, os países asiáticos, africanos e americanos experimentariam o meio de transporte do Novo Mundo (OLENDER, 2017, p.322).
No Brasil, a instalação da primeira ferrovia foi trazida por seu principal incentivador, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. Com grande entusiasmo, estes símbolos do progresso e da civilização brasileira, que ligava Petrópolis, foi inaugurado no dia 30 de abril de 1854, por D. Pedro II.
Após 16 anos de muitas histórias, pessoas e mercadorias transportadas pela locomotiva desativada, a segunda ferrovia que ligava as principais cidades brasileiras: Rio de Janeiro e São Paulo.
Nos anos seguintes, a malha ferroviária Brasileira se multiplicou, e o trem se tornou o mais importante meio de transporte. Por realizar a conexão entre as cidades e os estados, a ferrovia se mostrou decisiva no desenvolvimento dos lugares onde se instalava.
No ano de 1922, quando o país comemorava o centenário da Independência do Brasil, já existia um sistema ferroviário com, aproximadamente, 29.000 km de extensão, cerca de 2.000 locomotivas e 30.000 vagões em tráfego (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010).
Fruto da agricultura do estado, principalmente da economia cafeeira e da necessidade de distribuição do produto, Minas Gerais apresentava quase 50% da malha ferroviária do território nacional.
Assim como nos demais estados do país, Minas Gerais teve o desenvolvimento de seus municípios marcado pelas instalações das linhas férreas. Cúmplices de chegadas e partidas, as estações foram, por muito tempo, o principal eixo econômico dos centros em expansão, bem como um importante marco da malha urbana.
Portanto, no século XIX, surge uma paisagem urbana dinâmica e moderna, com as fábricas, linhas ferroviárias, novos meios de comunicação, como o telefone, telégrafo e jornais diários, movimentos em massa que lutavam contra a imposição dos ideais de modernização (SILVA, 2008, p.25).
Essa era a identidade que se tentava construir, de uma cidade moderna, empreendedora e dinâmica. Os anos 1930 foram um marco na história não somente de Juiz de Fora, mas de um modo geral, do país, que passa por profundas mudanças política se econômicas.
O início da década é marcado pela Grande Depressão e a Revolução de 1930, que colocou Getúlio Vargas no poder, iniciando um período político com ideais diferentes dos até então vistos no Brasil.
A estagnação da expansão da malha ferroviária do país se inicia no primeiro mandato de Getúlio Vargas, que lançava em seu plano de governo as preferências pelo modelo rodoviário (OLENDER, 2017, p.325).
Nos anos 1950, o país decide unificar 18 malhas ferroviárias, que totalizavam 37.000 km de linhas espalhadas pelo território brasileiro.
Em 1957, Juscelino Kubitscheck cria a Rede Ferroviária Federal S.A. – RFFSA, com o objetivo de administrar, explorar, conservar, reequipar, ampliar e melhorar o tráfego das estradas de ferro da União (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010).
As ferrovias passariam a transportar prioritariamente mercadorias em detrimento de passageiros. A partir daí, os investimentos na manutenção das linhas reduziram drasticamente, gerando impossibilidade de trazer recursos para o país.
Fruto da crise da Rede Ferroviária, o sistema que envolvia todo o seu funcionamento ficou em situação de abandono, no que tange os edifícios de estações, bem como a paisagem construída pela dinâmica do cotidiano dos moradores, funcionários e usuários.
Diante deste fato, o presente trabalho, construído no âmbito do Laboratório de Patrimônios Culturais (LAPA), da Universidade Federal de Juiz de Fora, tem por objetivo compreender o elo existente entre o patrimônio ferroviário e as paisagens culturais construídas nos municípios de Barbacena, Antônio Carlos, Santos Dumont, Ewbank da Câmara, Juiz de Fora e Matias Barbosa, por onde passava a extinta R.F.F.S.A.
Tem por objetivo também compreender como o elo que os moradores desenvolveram com a ferrovia com o passar do tempo, destacando o remanescente desse patrimônio nesses municípios, bem como as relações de identidade construídas entre elas, para que tais relações possam ser novamente fortalecidas e refletirmos sobre a preservação do patrimônio ferroviário para as gerações futuras.
Clique aqui para ler o texto na íntegra
Muitas cidades foram erguidas em função da malha ferroviária, que impulsionou a economia dessas cidades por onde os trilhos passavam, levando produtos, pessoas e prosperidade, aproximando lugares antes distantes, levando também o desenvolvimento e incorporando as linhas férreas em suas paisagens.
Na pós-graduação em Planejamento e Desenvolvimento Urbano Sustentável do curso de Arquitetura da Faculdade EnsinE, o olhar crítico e social desses projetos serão discutidos e profundamente analisados, tornando o aluno agende transformador da realidade.
O curso inicia em 5 de novembro com aulas as sextas-feiras e sábados (quinzenais), em aulas online ao vivo com professores mestres e doutores de notório saber. O certificado é reconhecido pelo MEC.