Nos últimos dez anos, a Medicina Intensiva no Brasil passou por um crescimento notável, marcado por avanços significativos e desafios persistentes.
Segundo dados da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), o número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no país aumentou em 52%, passando de 47.846, em 2014, para 73.160, em 2024.
Este crescimento foi especialmente impulsionado pela pandemia de Covid-19, que destacou a importância dos cuidados intensivos para enfrentar crises sanitárias de grandes proporções.
No entanto, apesar dos progressos, as desigualdades regionais e sociais ainda representam um desafio para a equidade no acesso à saúde.
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Crescimento desigual entre estados
Embora o crescimento total de leitos de terapia intensiva seja expressivo, a distribuição deles no território brasileiro é profundamente desigual.
Embora a média nacional seja de 36,06 leitos de UTI por 100 mil habitantes, 19 dos 27 estados estão abaixo desse índice. Ou seja, a maioria dos leitos está concentrada em apenas 8 estados.
No Distrito Federal, por exemplo, a densidade é de 76,68 leitos por 100 mil habitantes, enquanto no Piauí é de apenas 20,95. Essa disparidade reflete um abismo entre regiões mais desenvolvidas, como o Sudeste, e aquelas com menor infraestrutura, como o Norte.
Além disso, a desigualdade também é evidente entre as redes pública e privada de saúde. Enquanto os beneficiários de planos de saúde contam com 69,28 leitos por 100 mil habitantes, os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) têm acesso a apenas 24,87 leitos por 100 mil habitantes.
Número de médicos intensivistas cresce, mas não o bastante
Nos últimos anos, a Medicina Intensiva também viu um aumento significativo no número de especialistas.
Entre 2011 e 2023, o total de médicos intensivistas no Brasil cresceu 228%, saltando de 2.464 para 8.091 profissionais. No entanto, a distribuição desses especialistas reflete as mesmas disparidades observadas nos leitos de UTI.
- Região Sudeste: concentra a maior parte dos profissionais, com 6.239 registros.
- Região Norte: possui apenas 348 intensivistas, representando uma densidade significativamente menor.
- Distrito Federal: detém a maior densidade de intensivistas, com 14,06 especialistas por 100 mil habitantes, enquanto estados como o Amapá possuem apenas cinco profissionais.
O papel da AMIB e as soluções necessárias
A AMIB é sem dúvidas o principal ator na luta por avanços na Medicina Intensiva brasileira. Seja na formação e titulação de especialistas em medicina intensiva, seja na promoção, pesquisa e divulgação da importância central da área para a saúde.
Apesar do crescimento na oferta de leitos e especialistas, a entidade reforça a necessidade de políticas públicas robustas para enfrentar as desigualdades. Segundo a presidente da AMIB, Patrícia Mello, “é necessário realizar investimentos consistentes para melhorar o acesso a leitos e atrair profissionais qualificados para regiões mais carentes”.
Entre as soluções propostas pela associação estão:
- Expansão de programas de residência em Medicina Intensiva em locais afastados.
- Políticas de incentivo para fixar médicos em áreas menos favorecidas.
- Melhorias na infraestrutura hospitalar, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
Próximos passos da medicina intensiva no Brasil
A Medicina Intensiva no Brasil está em franca expansão, mas ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que todos os brasileiros tenham acesso a cuidados críticos de qualidade.
O aumento no número de leitos e especialistas demonstra progresso, mas a desigualdade na distribuição desses recursos reforça a urgência de ações concretas para construir um sistema de saúde mais justo e eficiente.
A AMIB segue liderando o diálogo e promovendo iniciativas que visam transformar a realidade da Medicina Intensiva no país, garantindo que o cuidado aos pacientes críticos seja cada vez mais inclusivo e acessível.