Autora: Karla Cavallari Rodrigues
Desde o fim de 2019, se vive a pandemia da COVID-19, esse evento extremo tem gerado algumas discussões sobre o comportamento da sociedade ao longo dos anos.
Momentos em que estivemos sobre a ocasião de grandes doenças coincidem com momentos de exaustão do ambiente urbano, e principalmente, do nosso comportamento com relação aos recursos naturais.
A pandemia da Peste Bubônica, entre os anos de 1333 a 1351, mostrou a carência de espaços adequados à habitabilidade. Com grande concentração de pessoas em espaços insalubres, a ausência de saneamento urbano e infraestrutura de esgoto.
Assim como a pandemia da Cólera no século 19, em que a transmissão ocorria por meio de alimentos contaminados pela água.
Essas mudanças e transições causaram debates, e hoje, não é diferente. O momento nos obriga à reflexão sobre a capacidade do solo urbano: Como as cidades estão se desenvolvendo? Quais suas carências e qual deve ser o planejamento para que as cidades sejam mais resistentes?
As cidades são ambientes de oportunidades, serviços e mercadorias, onde ocorrem as grandes trocas e trânsito de pessoas. São também, onde estão as maiores incidências de casos, atualmente, sobre a doença. Assim, vemos as fragilidades na infraestrutura a serviço da saúde humana.
Alguns fatores revelam e comprovam nossas carências e quais caminhos são necessários para direcionar as políticas públicas. Para que, daqui há alguns anos, tenhamos melhores indicadores e espaços mais seguros para pessoas transitarem e desfrutarem da vida urbana.
Olhar para o território permite reconhecer fatores e características da dinâmica de evolução da pandemia. Portanto, favorece o desenho de estratégias específicas para os enfretamentos de problemas atuais e futuros em suas diferentes escalas, evitando danos específicos as populações.
Dados Socioeconômicos
De acordo com o boletim nacional, são mais de 18 milhões de casos da doença e cerca de 525.000 mortos pelo país. (Visto em 06/07/2021).
Ao analisar a incidência de casos, atinge mais a população mais idosa: 69,3% dos óbitos ocorreram em pessoas com mais de 60 anos e destes, 64% apresentavam ao menos um fator de risco.
Há diversos mapeamentos cruzando as informações de população idosa e casos de Covid-19 que comprovam esse fato. Além disso, existe uma relação direta entre a população mais vulnerável economicamente e as taxas de contágio, ou seja, as populações que possuem menor renda são as mais afetadas pela doença.
O dossiê realizado pelo Observatório das Metrópoles revela em diversas cidades do Brasil, nas regiões onde estão concentradas as famílias inscritas no CADÚNICO que possuem menor renda, coincidem com as regiões territoriais onde estão os maiores números de contágio.
As principais formas de se evitar o contágio da COVID-19, é o uso de máscaras e a lavagem das mãos recorrente. Entretanto, a realidade do Brasil, quando se refere à distribuição de serviços de esgotamento sanitário e distribuição de água é altamente desigual.
Uma grande parcela da população vive sem o acesso direto aos serviços. Segundo o IBGE, 35 milhões de brasileiros não tem acesso ao serviço de distribuição de água, enquanto, 100 milhões não tem acesso ao esgotamento sanitário.
As regiões que concentram a carência dos serviços são também as de grande contingente populacional, ou seja, as favelas. O cenário mostra, portanto, a desigualdade territorial de distribuição e disseminação da doença, concentrando o maior número de casos em porções diferentes do território.
Habitação e a Covid-19
Outra forma de evitar a alta disseminação da doença é se manter em isolamento social. Entretanto, para parte da população brasileira essa tarefa é quase impossível, devido a qualidade da habitação e a disponibilidade de moradias.
De acordo com o IBGE, hoje são mais de 5,1 milhões de domicílios brasileiros em aglomerados subnormais, somando 13 milhões de favelas distribuídas em 734 municípios. Somente na cidade de São Paulo, mais de 104 mil famílias dividem a habitação e outras 47 mil habitações são consideradas em adensamento excessivo.
Ou seja, um grande número de brasileiros não possui condições de manterem distanciamento mínimo quando uma pessoa está infectada. Portanto, existe uma alta taxa de contágios dentro das habitações.
Além disso, uma grande porcentagem da população vive em habitações de condições precárias, onde não existe entrada de luz solar e circulação de ar.
Saúde Urbana
Outra questão que deve conduzir nossas reflexões para a construção de cidades mais seguras: a temática dos espaços públicos. Nunca foi tão necessário o uso dos espaços coletivos com qualidade.
Praças e parques tem sido o refúgio para a distração dos momentos de isolamento, entretanto em muitas cidades eles são escassos, de qualidade insuficiente e de baixa capacidade de permanência.
Além disso, as áreas verdes são espaços de respiro entre as grandes massas de edifícios dos centros urbanos, permitindo banhos de sol e a prática de exercícios físicos.
Uma nova abordagem para o planejamento da cidade deve trazer espaços abertos, utilizando as massas vegetais como grande recurso de manutenção da qualidade da vida urbana.