A educação na pandemia de covid-19 é, certamente, um grande desafio para toda a sociedade. Neste momento, a comunidade escolar encontra-se envolta em muitos dilemas e questões envolvendo a democratização do ensino e alternativas para os planos pedagógicos adotados.
Vamos explicar o que a educação integral pode nos dizer sobre o assunto e os caminhos possíveis neste momento. Confira!
A Educação Integral
A Educação Integral é uma metodologia que entende a educação em uma perspectiva integrada. O que isso quer dizer? Segundo a concepção, a educação deve garantir o desenvolvimento dos alunos em todas as suas dimensões, de forma coletiva e com ampla participação da comunidade escolar. Mas como garantir esses direitos com a educação na pandemia?
De acordo com a professora Fernanda Queiroz, coordenadora da pós-graduação em Educação Infantil da EnsinE, “a metodologia da educação integral é aquela que busca desenvolver o estudante em várias aspectos. Ela vai muito além do que a carga horária estendida.”
Dessa forma, ela pode ser dividida em quatro dimensões:
- Conhecimento: trata-se de entender a relação entre as diversas áreas do conhecimento. A partir dessa conexão entre as disciplinas é possível elaborar planos pedagógicos mais completos e integrados;
- Habilidades: ao invés de participar apenas de exercícios teóricos, os alunos praticam atividades alinhadas com o cotidiano. A habilidade somada ao aprendizado resulta em pensamento crítico, característica primordial para a formação na educação integral;
- Caráter: essa dimensão foca no desenvolvimento de virtudes, valores e a capacidade de realizar escolhas. Afinal, os desafios deste século pedem equilíbrio entre as responsabilidades pessoais e profissionais;
- Meta-aprendizado: a metacognição é o processo de pensar sobre o pensamento. A dimensão oferece ferramentas que preparam os estudantes para as mudanças e envolve a autorreflexão, desenvolvendo uma mentalidade de crescimento em cada aluno. Em suma, é o famoso “aprender a aprender”.
Educação integral na pandemia de covid-19
No contexto da pandemia de covid-19, a educação enfrenta diversos desafios. Na educação tradicional, a relação do aluno com o mundo a sua volta recebe pouca atenção. A experiência vivida pela comunidade escolar, muitas vezes, não é tratada de maneira ideal, assim como as formas de acolhimento e as estratégicas de engajamento são comprometidas.
Como resultado, Fernanda afirma: “A covid-19 feriu todos os direitos humanos que envolvem a educação: os direitos humanos fundamentais da criança, que devem ser respeitados na retomada da frequência a escolas e creches; os direitos humanos da família da criança e os direitos humanos dos professores, educadores e funcionários que lidam diariamente com os alunos. Acredito que todos os modelos de escola tiveram que se reinventar nesse momento crítico.”.
Vejamos então quais são esses desafios e suas possíveis alternativas.
Desafios e alternativas para a educação na pandemia
Agora que vimos os princípios da metodologia, será possível, então, apontar desafios específicos sob a perspectiva da educação integral.
São diversos questionamentos: quais os objetivos educacionais para este período? Como garantir a participação ativa dos gestores e professores na vida escolar dos sujeitos, visto que são estes profissionais que fomentam o engajamento entre a comunidade escolar? Que tipo de apoio e quais as formas de auxiliar esses educadores? Como garantir, então, o envolvimento e a escuta da família dentro do processo de aprendizagem?
Ainda dentro dos desafios, as questões tecnológicas também entram em cheque. Como utilizar esse instrumentos sem o agravamento das desigualdades, garantindo que todos os estudantes possam ter acesso as mesmas oportunidades? Ademais, em relação ao pós pandemia, quais desses recursos valem a pena serem mantidos?
Dessa maneira, diante de tantos questionamentos, é inegável as reflexões surgidas quanto ao real papel da escola na formação das gerações futuras. Será que a escola está preparada para tantas transformações?
A educação na pandemia sob uma perspectiva integral
Compreender a educação integral é entender que a escola é um espaço essencial para assegurar que todos tenham acesso a formação integral, de forma democrática e acessível. Por fim, a educação assume um lugar de articuladora entre os saberes, as estratégias e as vivências, dentro e fora do ambiente escolar.
De acordo com os princípios da educação integral, é possível estruturar algumas alternativas e possíveis respostas para os principais desafios e questionamentos que surgem neste período.
Alternativas
As propostas e reflexões que os princípios da educação integral permitem um diálogo e uma adaptabilidade grandes dentro de diferentes contextos. É justamente neste momento em que podemos reconhecer sua importância e sua contribuição para a democratização do ensino no país. No entanto, sabe-se que é desafiador aplicá-los até mesmo em condições “normais”. Dessa forma, como fazê-los presentes em tempos incertos?
A EnsinE separou algumas propostas para te auxiliar com a educação na pandemia. Confira!
Objetivos e estratégias
Primeiramente, o foco agora deixa de ser transferir a escola para dentro de casa. O objetivo agora, sobretudo, é garantir o apoio às famílias, seja na estruturação da rotina de estudos dos filhos ou em questões pessoais.
Assim, é importante adotar estratégias colaborativas, priorizando a busca ativa. Pense a educação como um objeto que tem seu funcionamento em rede: não se desenvolve sozinho, muito menos está restrito à sala de aula.
Comunidade escolar
É importante que se faça um mapeamento, identificando as necessidades das famílias e compreendendo em que contexto estão inseridas. A partir desse estudo, é interessante adotar atividades que façam sentido naquele ambiente, valorizando o conhecimento daquele território e versando aquela realidade.
Estratégias educacionais
Esqueça os materiais prontos do período pré-pandêmico. Construa atividades coletivas, adapte o conteúdo com propostas que envolvam a família e que possibilitem que as pessoas daquele ambiente mediem. Por mais elaborado que um exercício possa ser, sua proposta pode ir por água abaixo caso o mediador daquela tarefa não compreenda seus objetivos. Além disso, essa pessoa pode passar a atividade de maneira equivocada, prejudicando o processo de aprendizagem. No caso de atividades autônomas, lembre-se de sempre prezar por exercícios o mais didáticos possíveis, para que aquela criança possa desenvolvê-lo da forma adequada.
Neste momento, use e abuse de diferentes linguagens. Vídeos, áudios, desenhos, materiais impressos e, até mesmo, uso de redes sociais. Explore formas que permitam que diferentes perfis tenham acesso àquele conteúdo. Em suma: engaje, crie brincadeiras, seja criativo!
Uma dica importante é a capacitação. Sempre busque aprimorar seus conhecimentos, esteja conectado com o mundo atual. Aposte em cursos livres e, se possível, uma pós-graduação que ofereça um conteúdo condizente com o mundo atual. A Pós-graduação em Formação de Educadores em uma Perspectiva Integral possui os melhores professores, com as mais avançadas metodologias e muito conteúdo para te auxiliar em tempos tão difíceis.
Próximos passos
Em primeiro lugar, é importante lembrar que a luta por uma educação de qualidade no Brasil é atemporal. No entanto, é importante lembrar que situações como essa escancaram a necessidade urgente da discussão sobre o processo educacional adotado e sua real efetividade. Com toda a certeza, as equações tradicionais não sustentam todas as necessidades dos estudantes.
A boa notícia é que existem inúmeras instituições e profissionais que vem lutando para transformar essa realidade. Um exemplo é o relatório desenvolvido em conjunto pela Fundação Carlos Chagas, Fundação Roberto Marinho, Fundação Lemann, o Itaú Social, Instituto Península e Iede, RETRATOS DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS. O estudo reúne um panorama completo sobre a educação na pandemia e seus reflexos, servindo de norte para muitos profissionais.
No contexto educacional, os educadores precisam ser vistos como mediadores na construção do saber. Esses profissionais constroem currículos vivos, que transcendem os muros das escolas. Além disso, eles precisam ser capacitados como tal, exercendo um trabalho coletivo e que entenda o contexto em que os alunos e alunas estão envoltos, potencializando os saberes individuais e os envolvendo em processos educacionais que os reconheçam como sujeitos multidimensionais. Sujeitos que possam produzir conhecimento com o auxílio na escola e que, sobretudo, possam construir um futuro melhor para as próximas gerações.
“Que não nos falte o sonho de dias melhores. Que possamos nos preparar para a volta, pós-pandemia, entendendo que esse período é singular. Nossas vidas mudaram. Levamos a sala de aula para a sala das nossas casas. Agora, vamos começar a ressignificar, atribuir um novo sentido a acontecimentos por meio da nossa visão de mundo. Vamos ressignificar a escola e o nosso envolvimento com as famílias e as comunidades. A esperança é o que nos move. (…) Sabemos o quanto é importante a pauta da continuidade do ensino, vamos vencer os desafios com fé. Essa Pandemia nos mostrou o quanto somos capazes!” – Fernanda Queiroz, coordenadora da pós-graduação em educação infantil da EnsinE.