Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH ocorre em 3% a 5% das crianças de diferentes regiões do mundo e, em mais da metade dos casos, o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta.
Entrevistamos a psicopedagoga Cristina Coronha para esclarecer o tema e explicar como pais e professores podem ajudar.
O que é o TDAH?
É um transtorno comportamental de déficit de atenção e hiperatividade. Algumas pesquisas mostram que até 5% da população em idade escolar pode apresentar esse transtorno.
É uma tríade de sintomas, o déficit de atenção, a hiperatividade e a impulsividade. Ainda assim, nem sempre os três sintomas aparecem e podem ter diferentes intensidades.
Quais são os sintomas do TDAH?
A pessoa com o transtorno tem dificuldade em prestar atenção a detalhes e muitas vezes comete erros por descuido, sempre muito distraído. Tem dificuldade em manter a atenção em uma tarefa ou sustentar essa atenção. Ele pode começar a tarefa e não ir até o final. Outros têm dificuldade em começar a tarefa.
Outro sintoma é que, às vezes, ficam muito focados numa determinada tarefa, que geralmente ocorre naquelas que eles gostam e se envolvem, chamamos de hiperfoco. Ele fica tão absorvido no que está fazendo que esquece do mundo a sua volta.
Tem muita dificuldade de organizar os pensamentos, ordenar o que precisa ser feito e de executar. O TDAH é um déficit executivo. Muitas vezes o pensamento é ágil, consegue responder um questionamento, porém, na hora de fazer, colocar em prática o mesmo raciocínio no papel, ele tem dificuldade.
Outro indicação é o corpo inquieto. Estão sempre mexendo as mãos, se remexendo na cadeira, precisando levantar, beber água e ir ao banheiro. Além disso, percebemos também movimento com a boca, costumam fazer barulhos ou cantar durante as atividades.
Geralmente as pessoas com TDAH têm um comportamento ansioso, uma pressa, necessidade de falar rápido, não esperam a pergunta terminar de ser feita e já estão respondendo. Têm dificuldade de esperar sua vez em filas, na sala de aula para responder uma pergunta. Costumam interromper muito e se meter em conversas alheias.
Como fazer o diagnóstico?
É importante observar se esses sintomas são típicos do TDAH ou tem a ver com a dificuldade da criança em lidar com os limites, em lidar com o tempo. Uma criança que não tem hábitos, uma rotina em casa, vai apresentar muitos desses comportamentos. Assim como uma criança que não entende as regras, também pode apresentar.
Então o diagnóstico, quando feito de forma multidisciplinar, é possível vislumbrar essa realidade.
Porque muitas vezes parece que tudo é o TDAH. Como tem um certo modismo nesse termo, toda criança que tem dificuldade em manter atenção, em seguir regras, inquieta, acaba entrando nessa suposição.
Quando um psicopedagogo, um psicólogo ou até mesmo professor participa também da construção dessa avaliação, consigo dizer se é um TDAH ou não. É algo muito preciso. Temos instrumentos próprios que podem ser utilizados na escola, com os pais, para que se levantem mais dados para que o médico possa fazer um diagnóstico.
Contudo, é importante destacar que somente um médico neurologista pode fazer o diagnóstico. Psicólogos, psicopedagogos e até mesmo professores, pela experiência, conseguem fazer uma hipótese diagnóstica através de uma série de atividades. Porém, somente os médicos podem fechar o diagnóstico.
O que a escola pode fazer para ajudar o aluno com TDAH?
Como o TDAH é um transtorno, ele é amparado pela educação inclusiva. Então as escolas, precisam realizar dentro dos seus currículos, algumas adaptações para poder inserir esses alunos, entender essa realidade. Através de metodologias, estratégias e algumas atitudes diárias, para que esses alunos possam mostrar o máximo do seu potencial.
As pessoas com TDAH têm uma inteligência normal, muitas vezes se destaca na sua habilidade linguística, fala muito bem, tem uma capacidade de percepção muito rápida, demonstrando uma inteligência até maior que outros do seu grupo, em relação aos argumentos orais.
Se a escola não for preparada para entender, como ela tem muitas dificuldades comportamentais, isso pode fazer com que haja crescimento de uma baixa auto estima. Se o professor não dá atenção a essa criança, ele vai se sentir menos importante, menos inteligente, menos capaz que os seus colegas.
Essas metodologias ativas que temos hoje como possibilidade de recurso pedagógico nas escolas ajudam muito. Os professores precisam trazer esses alunos para perto deles, criar recursos e avaliações orais.
Nas aulas remotas, chamar a atenção de forma reservada, tudo de forma discreta, sutil mas muito firme. Todavia, sempre dando espaço pra cada um mostrar o seu melhor, as suas inteligências e potencialidades.
Quando falo em TDAH e vestibular ou qualquer concurso, existe o amparo da Lei de Inclusão, que faz com que eles possam realizar as provas num tempo diferenciado e numa sala separada só pra ele. Todos esses direitos precisam ser reconhecidos. Cabe a família procurar um médico para fazer esse diagnóstico e em posse disso, buscar os direitos quando houver esses exames de seleção.
Como os pais podem ajudar?
A escola e a família precisam estar de mãos dadas nesse processo. Os pais, por desconhecimento, percebem a deslocação dos filhos, o mau comportamento, a dificuldade no estudo, as notas baixas, a desmotivação, e muitas vezes castigam os filhos e acham que é desleixo, falta de interesse.
Quando a escola está atenta aos movimentos do aluno, não só na questão das notas, ela pode fazer essas inferências e solicitar aos pais que procurem ajuda, profissionais habilitados, para ajudar no diagnóstico. Dessa maneira, é muito importante que a escola entenda o seu papel na condução desse trabalho.
Contudo, os pais precisam ajudar no ambiente de estudo, precisa ser bem delimitado. Evitar que o filho estude na sala, onde tem outros irmãos ou onde a mãe está cozinhando. Precisa de um lugar tranquilo, sem muitos estímulos físicos, sem muito barulho e sem o celular. Além disso, os pais precisam monitorar o tempo todo. Lembrando que o estímulo positivo, valorizar as conquistas, mostrar que confia na capacidade do filho é muito importante.
É preciso também que haja dentro dessa rotina um estudo diário da matéria que foi dada na escola, com apontamentos. Tudo muito colorido, com canetas, post its e muito registro.
Quais as orientações para lidar com o TDAH?
O portador de TDAH precisa de rotina, precisa ter agenda. Ter alguma forma de registro da vida, do seu tempo. Porque uma das maiores dificuldades é a organização e administração desse tempo. Essa agenda pode ser pelo computador, de forma escrita, um painel na parede, por exemplo. O importante é que ela seja materializada. O ato de olhar ajuda no auto monitoramento.
No caso de aulas presenciais, esse aluno precisa estar na frente, perto do professor. Ou seja, precisa ter uma atenção e mediação direta do professor durante as aulas. Permitir que ele saia da sala mais vezes que o normal, valorizá-lo naquilo que ele fizer de melhor.
Toda orientação em sala de aula deve ser feita de forma individualizada, evitar chamar a atenção na frente dos colegas, porque isso pode fazer com ele se sinta diminuído. Como tem uma dificuldade em conter os impulsos e produzir de forma assertiva, se ele é chamado a atenção de forma negativa, todas essas dificuldades podem ser maximizadas e atrapalhar no desenvolvimento.
Outra coisa importante é em relação às regras. Precisam ser claras e objetivas. Tanto pais quanto a escola precisam orientar de forma direta e criar propósitos e metas realizáveis, para ajudar no monitoramento e na sensação de sucesso.
Nós vivemos um momento onde os nossos alunos, crianças e adolescentes estão sendo bombardeados com muitos estímulos. Isso faz com que a atenção seja prejudicada.
Assim, no caso dos portadores de TDAH essa dificuldade se maximiza. Tudo é feito com pressa, o tempo não é amigo. Acabam se mantendo sempre na superficialidade dos conteúdos, não conseguem aprofundar. Portanto, nós precisamos ajudá-los a entender como eles funcionam, a necessidade dessa auto regulação, orientá-los para manifestar o potencial.
Qual acompanhamento é necessário?
O portador de TDAH precisa de acompanhamento psicopedagógico ou neuropsicopedagógico, para orientação no estudo, para a organização, para o treino cognitivo dessa atenção. Fazendo com que ele entenda seu estilo de aprendizagem e que maximize isso no dia-a-dia.
Contudo, ele pode também fazer um trabalho psicológico caso a ansiedade esteja aumentada, caso a dificuldade de relacionamento com os colegas prejudique a vida social dele.
O TDAH tem dificuldade de se relacionar com o outro, falta o freio inibitório: às vezes fala o que não deve, interrompe, fala de forma inadequada. Sempre sem intenção, é um comportamento não controlado. Isso faz com que haja um afastamento do grupo social, nesse sentido, a psicoterapia ajuda bastante.
Qual o tratamento adequado?
Existe hoje, uma tecnologia de intervenção chamada PEI, Programa de Enriquecimento Instrumental, que favorece o trabalho de modificabilidade cognitivo estrutural. Assim, favorece muito a instrumentalização dos portadores de TDAH.
hoje, nós contamos com medicamentos próprios que ajudam na questão do TDAH, temos psicoterapia e temos o PEI. É uma modalidade que os mediadores podem ser psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos, eles possuem instrumentos específicos para esse tipo de trabalho.