Neste livro, o tema central é a Meditação com base na Teoria e Práticas Integrais criada pelo filósofo estadunidense Ken Wilber (1949 – ). Por isso, ele a chama de Meditação Integral: por combinar as milenares práticas de mindfulness com as modernas pesquisas sobre o desenvolvimento psicológico e a evolução humana.
Nesse momento de pandemia, ouvimos falar muito sobre pessoas que buscaram na meditação uma forma de enfrentar o instável ambiente psicológico que enfrentamos, em que níveis de ansiedade e de estresse, cujos efeitos levarão a gastos de 6 trilhões de dólares até 2030 (fonte: Revista VocêRH de Novembro/2020).
Assim, essa publicação é importante e relevante não apenas por se tratar de mais uma tradução de uma das obras do Ken Wilber, mas também e especialmente porque traz uma abordagem nova para um tema um tanto quanto banalizado.
Quando os temas meditação e mindfullness se popularizam rapidamente pelo mundo, consideramos essencial lançar trabalhos de referência para orientadores e estudiosos sérios do assunto. Ken Wilber não foge da complexidade que entrelaça as tradições espirituais e os saberes contemporâneos porque está bem aparelhado para resolvê-la.
Os modelos didáticos que estruturam a sua mente perspicaz levam-nos a compreender que meditação e mindfullness são meio importantíssimos, embora não exclusivos, para que possamos alcançar nosso plenos potenciais espirituais e humanos, e que, portanto, sua função social extrapola a fama de promoção da saúde física e psicológica a que muitos parecem querer circunscrevê-las.
O caminho do Despertar é algo encontrado em todo o mundo, muitas vezes remontando a dois ou mais milênios, um processo de crescimento que leva ao que é conhecido como Iluminação, Despertar, Metamorfose ou Transformação, Moksha ou Libertação, a Grande Libertação. Praticamente todas as Grandes Religiões do mundo têm pelo menos duas apresentações, conhecidas como conhecimento exotérico ou externo, e conhecimento esotérico ou interno. Conhecimento exotérico ou externo consiste geralmente em uma série de histórias, muitas vezes mágicas e míticas, que pretendem explicar a origem do universo, dos seres humanos, e muitas vezes em relação a um ser sobrenatural ou a seres cheios de poderes miraculosos; e esse lado da religião geralmente envolve aprender como assumir um relacionamento correto com este Ser Supremo. É um sistema de crenças baseado em vários mitos frequentemente transmitidos por séculos.
Mas o conhecimento esotérico ou interior não é um sistema de crenças míticas; é uma psicotecnologia da transformação da consciência. É uma ciência mental interior que visa uma experiência direta do que é dito ser a realidade última, resultando em uma tremenda realização conhecida como Iluminação ou Despertar. E isso não significa apenas pensar sobre uma realidade última, mas tornar-se identificado com essa realidade, em um estado que os sufis chamam de a “Identidade Suprema” – você, e a realidade última ou o próprio Espírito, são radicalmente um, e diz-se que essa percepção liberta o indivíduo do pecado original, da separação, ou dualismo de identificar-se apenas com este pequeno, finito, temporal, autocontraído e separado self, e em vez disso leva o indivíduo a identificar-se com todo o Kosmos em toda a sua glória.
Diz-se que esta é uma Libertação suprema porque, sendo um com o Todo, não há mais nada fora deste Self que possa escravizá-lo; e também é uma plenitude final, precisamente porque você é realmente um com o Todo, sem nada fora de você que você possa desejar. Então este é o objetivo último daquilo que se chama Iluminação, ou a Suprema Identidade, Suprema Liberdade ou a Plenitude Radical, na qual você experimenta uma unidade com o universo inteiro, acabando com todo sofrimento e miséria e conduzindo a um mundo de felicidade, bem-estar e integridade aparentemente intermináveis. Soa um pouco distante, não é? Bem, espere um momento para ver o que você irá pensar após ter realizado as nossas práticas experienciais, que poderão lhe proporcionar um vislumbre direto disso.
Enquanto isso, podemos simplesmente observar que, como dissemos anteriormente, virtualmente todas as principais grandes religiões têm seus componentes e sistemas de crença externos, exotéricos, geralmente míticos, bem como estes aspectos mais interiores, esotéricos, meditativos ou contemplativos. Estes escolas esotéricas interiores formam os grandes sistemas meditativos e místicos encontrados em todo o mundo – no hinduísmo, temos Vedanta; no judaísmo, cabala e hassidismo; no Islã, Sufismo; no budismo, práticas centrais que levam ao nirvana ou à consciência iluminada; no Taoísmo, taoísmo contemplativo; no cristianismo, cristianismo místico e gnóstico, e assim por diante.
E muitas vezes tem sido observado que todas as versões esotéricas mantêm essencialmente a mesma verdade básica da Identidade Suprema – em sua parte mais profunda, você é um com o Espírito, você contém todo o universo. Tat tvam asi – Tu és isso, como os Upanishads hindus afirmam – em sua verdadeira natureza, você é um com todo o Fundamento do Ser.
Essa percepção é freqüentemente chamada de Despertar ou Libertação, porque nos liberta do sonho de que somos apenas este pequeno self separado e autocontraído, esse ego ligado à pele, nascido apenas para viver, curtir um pouco, sofrer muito e morrer. Em vez disso, despertamos para a nossa verdadeira realidade, uma unidade unificada com o todo o universo. E é esse processo de Despertar que é fundamental para as grandes Tradições de Sabedoria esotéricas do mundo.
A prática do Despertar é conhecida como mindfulness
Uma das versões mais conhecidas de uma prática do Despertar é conhecida como mindfulness. Esta prática está se tornando bastante popular no Ocidente, embora tenha se originado na Índia perto de três mil anos atrás. Mas é uma forma profunda, simples, direta e muito eficaz de Despertar. Também tem muitos, muitos benéficos e efeitos secundários, da melhoria da saúde à redução de quadros depressivos, ao controle da pressão arterial, ao manejo significativo da dor, entre muitos outros – e está sendo promovida no Ocidente principalmente por esses muitos benefícios secundários, muitas vezes sem menção a Iluminação ou ao Despertar, embora seu propósito original fosse de fato (e ainda permanece sendo) um caminho para o Despertar. Vou apresentar uma versão simples dessa prática em um momento. Mas primeiro, deixe-me dizer para onde tudo isso está indo.
Despertar aponta para um profundo processo de crescimento espiritual nos seres humanos. E simplesmente note que, por mais estranho que pareça no início, essa prática geral e seus resultados não precisam ser colocados em termos espirituais. Eles podem ser descritos simplesmente como a percepção de nossos próprios e mais elevados potenciais; ou o despertar de nossos maiores talentos e capacidades; ou a percepção de nossa essencial unidade com toda a evolução; ou a melhoria de nossa saúde, felicidade e bem-estar; ou o encontro de nosso Verdadeiro Eu, transpessoal e superconsciente; ou simplesmente o despertar de um mundo de sonho para uma realidade mais elevada e verdadeira, com uma consciência maior, focalizada no atemporal Agora.
Mas a experiência em si é geralmente tão profunda e arrebatadora que é muitas vezes descrita em termos espirituais, infinitos, eternos, profundos e absolutos – porque é isso que parece. Em outras palavras, a mesma experiência de iluminação pode ser interpretada de muitas, muitas maneiras diferentes – do secular ao espiritual e além, e tudo bem.
Mas se você se sente incomodado por termos religiosos ou espirituais, não os use, e não pense nisso nesses termos. Você não irá querer perder esta oportunidade só porque a questão é redigida com uma palavra que não funciona para você, então lembre-se disso. Essencialmente, há uma experiência mundial e universal desta realização no mundo esotérico, e as tradições são apenas uma evidência significativa da sua realidade, mas você não precisa ser apanhado em suas interpretações espirituais. Seja qual for a interpretação que funcione para você, tudo bem.
A questão é simplesmente que temos acesso a essa realidade mais elevada, profunda e verdadeira, e é uma realidade que podemos praticar para realizar. Experiências semelhantes de Despertar são frequentemente vivenciadas nas experiências de quase morte, com alguns tipos de psicodélicos, espontaneamente na natureza ou enquanto se ouve música ou se faz amor. Mas aqueles que têm essas experiências estão quase universalmente convencidos de sua profunda realidade; há pouca dúvida de que tiveram uma experiência próxima das dimensões últimas – e acho que você começará a ver o que isso significa quando entrarmos no real exercício experiencial disso. Mas se você se sente incomodado por termos religiosos ou espirituais, apenas ignore-os, espere até ter uma dessas experiências e escolha os termos que melhor funcionem para você. Eu realmente gostaria de ouvir os termos que você irá propor; então talvez tenhamos um tempinho para explorar isso.
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